A infância de hoje tem acesso cedo à tecnologia. Mas é preciso equilibrar os riscos do contato precoce e saber melhor como aproveitar os benefícios.
O tema é delicado. Você pode até evitar que as crianças usem tecnologia nos tenros anos de idade. Porém, hoje em dia é praticamente impossível evitar contato delas com tablets e smartphones. Especialistas dão o parecer sobre o assunto que divide a opinião dos pais e educadores.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o uso de tecnologia pelas crianças não comece antes de se completar 2 anos de idade. Para Arthur Igreja, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em tecnologia e inovação, postergar o contato das crianças com os produtos de tecnologia pode ser positivo.
“Todos nós temos limite de idade para beber e dirigir. Não que isso se referirá à tecnologia. Mas os pais precisam estar atentos para que isso seja gradual e paulatino, entrando na vida das pessoas conforme ela tiver maturidade para entender os limites”, diz o especialista.
Mas a tecnologia está aí. As crianças antes mesmo de nascer já são expostas em fotos de ultrassonografia nas redes sociais dos pais. Quando a criança nasce, a convivência com os pais grudados aos seus smartphones também faz parte da realidade. Mas a tecnologia deve ser introduzida paulatinamente.
“Começamos a entender agora os exageros e a ver que os filhos dos magnatas do Vale do Silício, por exemplo, são criados praticamente sem tecnologia. Já estão sendo publicados diversos estudos relacionando déficit de atenção, propensão a atitudes impulsivas, ou seja, uma série de coisas que está relacionada aos excessos do uso de tecnologia”, alerta Arthur Igreja.
O mais importante é o que a criança está fazendo com a tecnologia. “Pode ser que ela esteja assistindo besteira no Youtube, mas também adquirindo educação. A infância é uma fase onde a socialização é muito importante. Muito mais do que quantificar é tentar entender qual é o uso dessa tecnologia”, diz o especialista da FGV.
Para Victor Santos, Chief Operating Officer da Codeby, empresa de tecnologia e desenvolvimento, como tudo na vida, não podemos usar a tecnologia com excesso. “Assim como não podemos comer, fazer exercícios o dia todo etc. Com moderação, horas para usar os aparelhos, mexer na internet, restrição de alguns conteúdos (de acordo com a faixa etária) enfim, com algumas regras básicas é possível fazer da tecnologia um caminho e não uma ponte”, orienta Santos.
Segundo Arthur Igreja, da FGV, um estudo recente indica que não existe perda cognitiva ou redução de QI como consequência do contato precoce com a tecnologia. Mas pode haver uma perda da capacidade de atenção, que levaria a criança a sofrer com ansiedade e até ter dificuldades de consumir conteúdos mais densos no futuro.
Sim, a tecnologia para crianças pode ser uma grande aliada nas salas de aula. Mas a tecnologia deve ser usada com moderação. Ou seja, nada adianta simplesmente dar acesso livre ao tablet, celular ou computador às crianças e argumentar que usa a tecnologia a favor da educação, alertam especialistas.
“Existem novas tecnologias, algumas desenvolvidas para educação, que apoiam o aprendizado, e mais que isso, escolas capacitadas que sabem utilizar a tecnologia da melhor forma possível, não alienando a criança, mas ensinando e educando por meio da internet”, diz Victor Santos, da Codeby.
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