Nas últimas semanas, diversos casos de vazamento de dados foram divulgados no Brasil. Milhões de informações sigilosas de cidadãos brasileiros, tais como histórico médico, CPF e número de telefone, foram publicadas na internet e as consequências desses casos podem ser extremamente danosas para as pessoas que agora tiveram seus dados revelados, com risco de fraudes de diferentes espécies. Nesse artigo, saiba mais sobre os vazamentos e como saber se seus dados estão sendo utilizados.
Os casos de grandes vazamentos de dados no Brasil têm se sucedido nas últimas semanas. Primeiro, foram duas falhas do Ministério da Saúde, que expuseram informações de mais de 200 milhões de brasileiros e dados sobre testagem positiva e internação por Covid de 19 milhões de pessoas.
Na sequência, outro vazamento na casa dos 200 milhões de cidadãos, incluindo até mesmo pessoas já falecidas, veio à tona. Ainda sem confirmação, a tendência é de que o vazamento tenha ocorrido a partir de uma base de dados da empresa de análise de crédito Serasa Experian. Nesse caso, as informações traziam CPF e dados financeiros dos cidadãos.
Por fim, novo alerta foi emitido na última quinta-feira (11) dando conta do vazamento de 100 milhões de contas de telefone, possivelmente das operadoras Claro e Vivo. Os dados incluem números discados e horário e minutagem das conversas, indicando quebra importante do sigilo telefônico dos usuários.
Em entrevista exclusiva ao CCM Brasil, o diretor executivo da Digisystem, Wagner Hiendlmayer, comentou as possíveis consequências dessa sequência de grandes vazamentos de dados. Para ele, a repercussão será tanto de ordem institucional - para o governo e empresas - quanto particular, para cada cidadão.
“No plano institucional, o Brasil já está sendo cobrado por organismos internacionais para garantir a segurança dos dados”, diz ele, que lembra que o direito à privacidade hoje faz parte dos Direitos Humanos. “Acordos comerciais também podem ser dificultados, pois empresas estrangeiras vão temer compartilhar dados com companhias no Brasil tendo em vista essa quantidade de dados vazados”, completa.
Já para os cidadãos, as consequências também podem ser graves, segundo o especialista. “Muitas pessoas estão agora com a vida totalmente aberta na rede, com número de documentos, escore de crédito e histórico de ligações. Isso abre espaço para uma vasta gama de fraudes cometidas por pessoas mal intencionadas”, afirma.
Em setembro de 2020, entrou em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil. Além de estabelecer conceitos e um ambiente para proteção de informações pessoais, a lei prevê multas para empresas que tenham dados vazados. Contudo, as sanções só podem começar a ser aplicadas a partir de agosto de 2021.
Para Hiendlmayer, a implementação da LGPD tem sido lenta. “O cronograma que foi apresentado é tímido, com poucas medidas no curto prazo. Além disso, há pouca iniciativa para capacitar pequenas e médias empresas a saber como fazer essa proteção”, diz ele.
Nesse cenário, o dano à imagem das empresas envolvidas no vazamento tende a ser a pior punição, pondera o especialista. “Não se deve instalar uma política de medo, mas a publicidade desses casos pode afetar muito uma empresa, pois o cidadão pensará duas vezes antes de compartilhar seus dados com ela no futuro”, aponta.
Com a divulgação recorrente de casos de vazamento de dados, muitos deles envolvendo um número de pessoas maior até mesmo do que a população do país, uma dúvida entre muitas pessoas é sobre como saber se seus dados estão sendo utilizados por criminosos. De acordo com Wagner Hiendlmayer, saber isso não é simples.
O que é possível fazer é utilizar algumas ferramentas, entre já existentes e criadas por conta desses vazamentos, para fazer conferências regulares. Uma delas é o Registrato, do Banco Central. Gratuitamente, o cidadão pode conferir todas as contas bancárias abertas e financiamentos contratados em seu nome. Ao notar alguma movimentação que não reconheça, a orientação é entrar em contato imediatamente com a instituição para corrigir o erro.
Outra iniciativa é da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Através do serviço Cadastro Pré, é possível saber se linhas de celular pré-pagas foram abertas com seu CPF, o que pode indicar fraude.
Não é possível para um cidadão comum evitar que dados pessoais na posse de empresas sejam vazados. No entanto, Wagner Hiendlmayer lista algumas medidas que podem ser tomadas para evitar problemas decorrentes desses vazamentos. Em primeiro lugar, deve-se selecionar com cuidado as empresas com quem compartilhamos nossos dados.
“Existem muitos aplicativos com funções simples, como lanterna e calculadora, que exigem acesso a inúmeros dados, como ligações, GPS e lista de contatos”, diz ele. “A pessoa precisa estar atenta a isso e não permitir sem critério que seus dados sejam entregues a diversas empresas, muitas delas totalmente desconhecidas”.
Além disso, após esses grandes vazamentos, é preciso redobrar a atenção com mensagens e e-mails recebidos. “Essas mensagens fraudulentas tendem a se sofisticar, pois o criminoso vai saber a sua operadora, banco e serviços que você utiliza. Ou seja, desconfie ainda mais daquelas mensagens com cobranças de pagamento ou pedido de renovação de cadastro”, explica Hiendlmayer.
Foto: © Markus Spiske - Unsplash.